Eurabia e as universidades europeias
O caso Van Der Horst
Longe dos campos de batalha e da atenção dos media, no coração da Europa, e nos corredores de uma prestigiada universidade, desenrolou-se o caso Van der Horst, ilustrativo dos efeitos complementares das duas facetas de um mesmo fenómeno, que é a Jihad e a Dhimmitude.
No livro Eurabia, l'axe euro-arabe 1(Eurabia: The Euro-Arab Axis), a historiadora Bat Ye'or, cujos trabalhos pioneiros levaram ao grande público um assunto inexplorado da história mundial – a dhimmitude e as relações entre o Islão e as minorias não-muçulmanas – descreveu o aumento da submissão das elites políticas europeias aos diktats da Liga Árabe e do mundo árabe-muçulmano em geral, a propósito do “diálogo euro-árabe”, e, para descrever este processo político, cultural e económico, inventou um termo que passou a figurar no léxico político contemporâneo: Eurabia.
Para os que ainda duvidam da existência e da realidade da Eurabia, o recente caso Van Der Horst ilustra as consequências do processo descrito por Bat Ye’or, no coração do bastião da cultura europeia: a universidade. O caso que desencadeou um polémica na Holanda e foi descrito em vários jornais americanos e israelitas foi silenciado nos media franceses… 2
Pieter Van Der Horst é um professor da Universidade de Utrecht, especialista no mundo helénico e no cristianismo inicial, trabalhos que lhe valeram renome mundial no mundo universitário. No início do mês de Junho de 2006, pronunciou um discurso de despedida por ocasião da sua passagem à reforma, após 37 anos de ensino. O assunto do seu discurso foi «O Mito do Canibalismo Judaico» e propôs-se a efectuar a genealogia deste mito desde a antiguidade até à época contemporânea.
Como o próprio Van Der Horst relata, tinha a intenção de seguir a pista de acusação segundo a qual os judeus consumiam carne humana, desde as origens greco-romanas, passando pela Idade Média cristã, e até ao período nazi e ao mundo muçulmano actual. A demonização dos judeus no mundo muçulmano tem as suas raízes, explica Van Der Horst, no fascismo alemão. Lembra que o Mein Kampf, o livro-programa de Adolf Hitler, figura na lista de best-sellers em vários países do Médio Oriente.
A simpatia pelo nazismo nos países árabe-muçulmanos remonta à época que precede à II GM. O dirigente palestiniano Haj Amin al-Husseini, Grande Mufti de Jerusalém, colaborou activamente com Hitler. Passou vários anos em Berlim, durante a guerra, prossegue Van Der Horst, e visitou o campo de extermínio de Auschwitz, que lhe inspirou um plano de edificação de câmaras de gás na Palestina, segundo o modelo nazi… 3
Para sua surpresa Van Der Horst, não pode pronunciar o discurso de despedida, perante os seus colegas da universidade de Utrecht, como era esperado. Foi convocado pelo Reitor da Universidade que lhe pediu para suprimir a passagem do seu discurso relativa ao anti-semitismo muçulmano. Recusando fazê-lo, Pieter Van der Horst foi convocado perante uma comissão ad hoc, que evocou três razões para suprimir a passagem litigiosa.A primeira é que o discurso arriscava – se não fosse expurgado – a provocar a cólera dos “grupos de estudantes muçulmanos bem organizados”, e o Reitor não podia assumir a responsabilidade das reacções violentas que iria suscitar. Para além disso, a comissão achava que o discurso era contrário aos esforços de aproximação entre muçulmanos e não-muçulmanos, no seio da universidade. Finalmente, os colegas de Van der Horst pretendiam que o seu discurso não estava ao nível dos critérios universitários, aludindo aos comentários sarcásticos que continha em relação a alguns políticos holandeses.
Incrédulo, Van Der Horst enviou o seu discurso a colegas especialistas do mundo muçulmano e do Islão que confirmaram unanimemente o interesse e a veracidade das alegações sobre o anti-semitismo muçulmano. Este discurso, afirmaram, não pode de forma alguma, suscitar a ira dos muçulmanos, pois não contêm nada de injurioso contra o Islão, o Profeta ou o Corão, mas aborda unicamente questões históricas.
O Reitor da universidade de Utrecht não ficou satisfeito com estas explicações e manteve a posição inicial. Triste, Van Der Horst decidiu aceitar o veredicto dos seus pares e pronunciou o discurso de despedida, após 37 anos de bons e leais serviços como professor, expurgado da passagem litigiosa.
No dia da cerimónia, teve a surpresa de constatar que os media locais se tinham interessado pelo assunto. O Reitor da universidade afirmava que não tinha existido nenhuma censura e que o discurso era simplesmente inaceitável pela sua qualidade de universitário.
Pieter Van Der Horst deu a sua versão dos factos no Wall Street Journal num tom optimista, constatando que tinha recebido o apoio de inúmeros colegas e de membros da comunidade judaica holandesa. Permitam que não partilhe do seu optimismo. O caso Van Der Horst ilustra o nível de dhimmitude a que chegaram as elites universitárias, em vários países da Europa.
O caso da Holanda não é isolado e nem sequer é o pior. Lembramo-nos de inúmeros casos de boicote universitário contra professores israelitas (alguns de extrema-esquerda, que não foi suficiente para os proteger) efectuado por grupos pró-palestinianos, influentes nas universidades francesas e inglesas. Mas o caso Van Der Horst é mais grave que os casos de boicote, porque testemunha a auto-censura que se impõem os membros iminentes da universidade (e que impõem aos seus pares), para não “ofender” os estudantes muçulmanos, sem que estes tenham intervido nesse sentido.
O caso Van Der Horst é a ponta do iceberg, e numerosos casos similares ocorreram sem chamarem à atenção. O fenómeno traduz a emergência da Eurabia no seio das universidades europeias. Toca todos os departamentos universitários, não só os que tratam dos estudos islâmicos (como a revista do Instituto Internacional para o Estudo do Islão no Mundo Contemporâneo, que é um modelo do politicamente correcto e do islamicamente correcto) mas também os estudos não-islâmicos, como mostra o caso Van Der Horst. Nas universidades europeias, certos assuntos tornaram-se tabu. O anti-semitismo no mundo muçulmano, a aproximação entre o fundador do movimento nacional palestiniano e os nazis, ou a perpetuação dos mitos racistas anti-judaicos nos países árabe-muçulmanos, são tabus que os professores mais eminentes não podem abordar, sob pena de serem censurados e humilhados publicamente. Quanto aos estudantes, seguramente nunca escutarão falar de tal coisa nos seus programas universitários. Erasmo desperta, eles estão loucos!
Notas:
1. Bat Ye'or, Eurabia, l'axe euro-arabe, Editions Jean-Cyrille Godefroy, Paris 2006.
2. Ver o artigo de Van Der Horst in Wall Street Journal, "Tying Down Academic Freedom", 30 Junho 2006. Publicado no site http://www.campus-watch.org/article/id/2606.
3. Sobre a colaboração entre o Grand Mufti e os nazis, ler Le Sabre et le Coran, Editions du Rocher 2005, cap. 1.
Paul Landau
in Observatoire de l’Islam en Europe
2 Comments:
O Tico e o Teco que andaram por todas essas universidades europeias e mais algumas podem vir aqui afirmar com toda a certeza que tudo isso é mentira e que não existe qualquer limitação ou Eurabização das universidades na Europa... hmmm... ou será dos jardins infantis???!!!...
Mas quem foi que disse que os holandeses são normais?
Desde que tive de responder a um holandês, que estava no controlo dos cartões de embarque no aeroporto de Amsterdão, "Eu falo português, você é que não", acho que tudo é possível.
Quanto à posição do reitor da Universidade de Utrech, não há comentário possível. Não falar das coisas, não faz com que elas deixem de existir.
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