Observatório da Jihad


15.7.06

Que laços judaicos com Jerusalém?

por Daniel Pipes
New York Sun, 20 Junho 2006
Original em inglês:
What Jewish Ties to Jerusalem?
Tradução: Márcia Leal
Adaptação:
K. Sliver


Historicamente, o valor religioso de Jerusalém, para os muçulmanos, oscilou entre o mais e o menos conforme as circunstâncias políticas. Num ciclo uniforme e previsível que se repetiu seis vezes ao longo de catorze séculos, os muçulmanos voltaram-se para a cidade quando isso lhes foi útil e ignoraram-na quando não foi.
Esse contraste tornou-se especialmente óbvio no século passado. De 1917 a 1948, o Mandato Britânico sobre a cidade galvanizou uma paixão por Jerusalém jamais vista nos quatrocentos anos de domínio otomano. Porém, quando a Cidade Velha esteve sob o controle da Jordânia entre 1948 e 1967, os árabes pouco se lembraram dela. Não era de Al-Aqsa, por exemplo, que as rádios jordanas transmitiam as orações das sextas-feiras, mas de uma mesquita menos importante, em Amã. O documento fundador da Organização para a Libertação da Palestina, o chamado Pacto Nacional Palestiniano, que data de 1964, não menciona Jerusalém uma vez sequer.
O interesse muçulmano pela cidade só reapareceu com a conquista de Jerusalém pelos israelitas em 1967. Então Jerusalém tornou-se o ponto central da política árabe, servindo como factor de unificação entre os elementos discordantes. Em 1968, a OLP alterou o texto do pacto para se referir a Jerusalém como "a sede da Organização para a Libertação da Palestina". O próprio rei da Arábia Saudita declarou a cidade "equivalente" a Meca do ponto de vista religioso — uma ideia original, para não dizer blasfema.
Em 1990, a fixação islâmica por Jerusalém tinha alcançado uma intensidade tão surreal, que os árabes palestinianos passaram das celebrações à negação da
importância sagrada e histórica da cidade para os judeus. O establishment árabe palestiniano — académicos, clérigos e políticos — popularizou essa afirmação improvável estruturando uma argumentação revisionista com partes iguais de manipulação, mentira, ficção e fraude. A fórmula apaga qualquer vínculo dos judeus com a terra de Israel, colocando em seu lugar uma espúria conexão árabe palestiniana.
Agora, os árabes palestinianos alegam que os cananeus construíram o Templo de Salomão, que os antigos hebreus pertenciam a tribos beduínas,
a Bíblia veio da Arábia, o Templo dos judeus "ficava em Nablus ou talvez em Belém", a presença judaica na Palestina cessou em 70 EC, e os judeus de hoje são descendentes dos turcos cazares. O próprio Yasser Arafat tirou do nada um inexistente rei cananeu, Salém, fazendo as mais tocantes referências a esse fantasioso "ancestral".
O
Palestinian Media Watch resume todo o processo: ao transformar os cananeus e os israelitas em árabes e o Judaísmo da antiga Israel em Islamismo, a Autoridade Palestiniana "toma a autêntica história dos judeus, documentada por milénios de literatura, risca a palavra ‘judaico' e sobrepõe a palavra ‘árabe'".
A implicação política é bem clara: os judeus não têm quaisquer direitos sobre Jerusalém. Como avisava uma faixa de rua: "Jerusalém é árabe." Os judeus não são bem-vindos.
Para
Yitzhak Reiter, da Universidade Hebraica, três factos foram decisivos para a conversão dessa mitologia auto-complacente em ideologia oficial:

  • O incidente dos Fiéis do Monte do Templo, um grupo de judeus que em Outubro de 1990, no esforço mal-sucedido de lançar a pedra fundaconal do Terceiro Templo, desencadeou um tumulto em que dezassete muçulmanos perderam a vida. O episódio exacerbou entre os árabes palestinianos o receio de ver demolidos os santuários islâmicos e estimulou-os a provar que Jerusalém sempre foi muçulmana e árabe palestiniana.
  • O acordo de Oslo, de Setembro de 1993, que pela primeira vez colocou Jerusalém sobre a mesa de negociação. Os árabes palestinianos responderam com uma tentativa de desacreditar a ligação dos judeus com a cidade.
  • A cimeira de Camp David, de Julho de 2000, em que o governo israelita, também pela primeira vez, expôs as suas reivindicações de soberania sobre certas áreas do Monte do Templo. Na observação mordaz de Dennis Ross, um diplomata americano presente no encontro, Arafat "nunca ofereceu ideias aproveitáveis, nem uma só vez" durante as conversações. No entanto, "lançou uma ideia nova, a de que o Templo não ficava em Jerusalém, mas em Nablus". Com isso, a pseudo-história de Jerusalém transformou-se em política oficial da ANP.


A negação árabe palestiniana dos laços judaicos com Jerusalém tem provavelmente duas consequências a longo prazo. Em primeiro lugar, ela sugere que a atracção dos árabes palestinianos pela cidade chegou a um tal fervor que se sustém indiferente à política, quebrando assim um padrão de catorze séculos. Jerusalém parece ser hoje a expressão de um interesse muçulmano duradouro, capaz de gerar sentimentos de posse não mais relacionados a considerações utilitárias.
Em segundo lugar, essa negação limita as perspectivas de uma saída diplomática. Com as suas falsificações auto-evidentes, a história árabe palestiniana aliena mais os interlocutores israelitas exactamente por reivindicar direitos exclusivos sobre a cidade inteira. Em resultado, futuras negociações sobre Jerusalém serão forçosamente mais emocionais, tortuosas e difíceis que as anteriores.


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