O culpado é quem provoca
Roland Dajoux *
para LibertyVox em Jérusalem
«O culpado é quem provoca»**. Assim dizia Zinédine Zidane, o desportista favorito dos franceses, para explicar a cabeçada contra um jogador italiano durante o Campeonato do Mundo, em 9 de Julho de 2006, em Berlim. A opinião pública francesa aceitou esta desculpa e perdoou a reacção brutal e «desproporcionada».
Futebol e geopolítica são dois mundos diferentes mas podemos constatar que Israel não beneficia da mesma compreensão e da mesma clemência. É permanentemente condenada por alguma imprensa, segundo a regra mais iníqua, a de «dois pesos, duas medidas».
Israel abandonou a totalidade da faixa de Gaza e «transferiu» 8000 israelitas das suas casas para os colocar ao abrigo dos mísseis palestinianos. Esta retirada foi uma incontestável derrota. Foi interpretada pelos palestinianos como uma vitória do terrorismo sobre Israel e levou o Hamas ao poder. As condições de segurança prometidas a Israel nunca foram respeitadas pois os mísseis continuam a chover sobre os civis israelitas.
Foi para parar esta flagrante provoacção, estes engenhos de morte dirigidos intencionalmente contra os civis, homens, mulheres ou crianças que o exército de Israel iniciou esta operação a Beit Hanoun, a norte da faixa de Gaza. Durante a semana de combate, assistimos várias vezes ao linchamento mediático de Israel, como se as guerras se ganhassem, cada vez mais, não no campo de batalha mas nas televisões. A desinformação tornou-se na doença vergonhosa de uma certa imprensa, como prova o seguinte exemplo.
O jornal International Herald Tribune de 4/5 Novembro de 2006 titulava em 3 páginas: «Os israelitas matam 3 mulheres na mesquita de Gaza».*** No início do artigo os autores escrevem: «Sexta-feira, os soldados israelitas dispararam sobre uma multidão de mulheres desarmadas quando elas se aproximavam da mesquita para ajudar os militantes palestinianos que se encontravam no interior». Esta introdução queria fazer crer que os soldados israelitas, desprovidos de humanidade, e a sangue frio, tinham aberto fogo sobre mulheres que iam socorrer os militantes palestinianos que estavam escondidos na mesquita! Nas primeiras palavras a causa foi percebida pelos co-autores. De um lado as mulheres e os inocentes e do outro os soldados israelitas sem fé nem lei!
Se continuarmos a ler o artigo, os dois jornalistas explicam que o exército israelita tinha entrado em Beit Hanoun dois dias antes para impedir os tiros de roquetes palestinianos disparados desta zona contra Israel. «Quinta-feira, quando as forças israelitas perseguiam os militantes da aldeia, sessenta homens armados refugiaram-se no interior da mesquita Um al-Nasir e ali permaneceram toda a noite. O exército israelita cercou a mesquita com o apoio de blindados. Durante horas, com a ajuda de megafones, os soldados israelitas pediram aos militantes para se renderem o que aconteceu com alguns. Os israelitas lançaram granadas lacrimogéneas e granadas de explosão sonora para obrigar os palestinianos a evacuarem a mesquita. Às três horas da tarde, homens armados começaram a disparar, do interior da mesquita, sobre os soldados israelitas que responderam, originando um intenso tiroteio. O exército israelita utilizou então um bulldozer blindado para derrubar uma parede da mesquita, segundo testemunhas militares e palestinianas».
No artigo é-nos explicado que estes militantes palestinianos armados lançaram um apelo, através de uma rádio local, para que as mulheres cobertas com o véu se dirigissem à mesquita e levassem roupas femininas e véus que lhes permitissem sair disfarçados de mulheres e protegidos por este escudo humano! Os autores do artigo citam as palavras do porta-voz do MNE israelita Mark Regev: «Quisemos evitar este tiroteio junto à mesquita, mas a lei internacional é clara: quando os combatentes tomam o controlo de um lugar de culto e disparam desta posição, tornam-se num alvo legítimo».
Existe inegavelmente uma manipulação semântica desonesta entre o título que acusa directamente Israel e os factos que explicam, de um lado o estratagema dos palestinianos dispostos a colocar em perigo a vida destas mulheres para poderem fugir e, por outro lado, a legítima reacção dos militares israelitas.
Quando o exército israelita retirava de Beit Hanoun um obus atingiu uma casa matando 18 palestinianos, na zona onde os palestinianos disparavam os mísseis. O Primeiro-ministro israelita apresentou desculpas por este erro e precisou que o exército israelita nunca visa intencionalmente os civis, ao contrário dos lançadores de mísseis palestinianos. Notemos que em nenhum momento os palestinianos pediram desculpa pelas vítimas civis israelitas. Em Israel, todos os políticos, de direita ou esquerda, fazem o mesmo apelo: os israelitas estão prontos a parar todas incursões na faixa de Gaza e a retomar as negociações de paz se pararem os ataques de mísseis.
Os palestinianos vão, uma vez mais, perder a ocasião de fazer a paz com os israelitas ?
Notas:
*Autor do livro Le temps des confusions Prix WIZO Aviv Jérusalem 2006. Editions Le Manuscrit.
** Zinédine Zidane falava assim no programa de Michel Denisot a 12 Julho de 2006.
*** Israelis Kill 2 women at Gaza mosque. Greg Myre, com a colaboração de Taghreed El-Khodary em Gaza.
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