Observatório da Jihad


10.2.07

O processo do antiracismo

por Ivan Rioufol
Le Figaro


A acusação de racismo, lançada a torto e a direito, procura impedir a crítica. Ficou demonstrado esta semana com Charlie Hebdo, perseguido na justiça pelas organizações muçulmanas por ter publicado as caricaturas de Maomé ligado ao terrorismo. Ora, é em referência a esse mesmo moralismo, de que se reclama o semanário, que o mesmo foi atacado. Possam as boas almas finalmente tomar consciência dos riscos que um tal dogma avassalador, desviado da sua justa causa, faz correr a democracia.
A condenação do jornal satírico é um recuo para a liberdade de expressão. A ideologia islamista, como qualquer outra, não se pode julgar intocável e exigir a censura. SOS Racisme e a Licra têm razão para se indignarem, no Libération, contra o processo aberto para «lutar contra o racismo». Mas estas organizações contribuíram para sacralizar este argumento, em nome dos bons sentimentos.
No livro publicado recentemente (Le Communisme du XXIe siècle, Éditions Xenia), Renaud Camus analisa luminosamente, na linha de Alain Finkielkraut, o totalitarismo deste anti-racismo sistemático, «último objecto da transmissão escolar». Este culto de Estado consiste em banir tudo o que diz respeito a etnias, povos, culturas, religiões, civilizações, origens, migrações, nacionalidades. O seu integrismo é igual a qualquer outro.
Raros foram aqueles, por exemplo, que protestaram ao ouvirem Edwy Plenel, na altura o patrão do Le Monde, dizer: «Quando escuto francês de origem, oiço racista de origem», Emmanuel Todd considerar «racista» defender o Ocidente, ou Jack Lang estimar: «Le raciste vê negros e árabes em todo o lado». Mesmo Nicolas Sarkozy sucumbiu, em 2004, ao ver «sinais de racismo» no facto de se interrogar a compatibilidade do Islão com os valores da República.
O racismo é indefensável. No entanto, a sua instrumentalização pelo pensamento correcto torna impossível o mínimo debate. Aconteceu isso, na segunda-feira, na TF1, quando o candidato da UMP evocou a prática da degolação de carneiros nos domicílios. Escolhendo defender a livre opinião e a laicidade, contra a oposição dos guardiães do Templo, Charlie Hebdo tomou o caminho da dissidência: é um primeiro passo. Resta derrubar o muro.
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