Protestos confirmam palavras de Paleólogo
por Vasco Rato
professor universitário
in Diário Económico
As reflexões do Papa sobre o Islão reflectem, apenas, as preocupações de vários países europeus.
Até os seus adversários concedem que Joseph Ratzinger é um dos mais brilhantes teólogos ao serviço da Igreja Católica. Tão erudito quanto polémico, Ratzinger, ao longo das últimas décadas, manifestou o seu incómodo com a crise do cristianismo europeu. Repetidamente, apontou para as consequências devastadoras resultantes da erosão da fé no continente. Concluiu que, para “sobreviver”, a Europa terá de recuperar as suas “raízes cristãs”. Por isso, defende que a Igreja volte a dedicar-se à evangelização. Dito de forma diferente, a sobrevivência da Europa passa pela capacidade da Igreja de manter viva a chamada fé em sociedades crescentemente seculares.
Partindo desta avaliação do papel da Igreja, Ratzinger não poderia deixar de reflectir sobre os rumos seguidos pela União Europeia. Criticou a ausência de uma referência à cristandade no Tratado Constitucional, considerando que se tratava de uma tentativa de extinguir o impulso decisivo dado pela Igreja à construçãoda identidade europeia. Também se opôs à entrada da Turquia na União. Uma vez que o país “sempre representou outro continente, em contraste permanente com a Europa”, o alargamento seria “antihistórico”. Quis dizer que a coerência do espaço europeu reside num património comum assente nos valores do cristianismo. País muçulmano, a Turquia não partilha desse património.
A desconfiança do mundo muçulmano relativamente a Bento XVI transformou-se em fúria no dia 12 de Setembro. Num discurso proferido na Universidade de Regensburg, o Papa abordou a relação entre a fé e a razão. Recorreu a uma citação do imperador bizantino Manuel Paleólogo. Segundo o imperador, Maomé trouxe “coisas más e desumanas, tal comoo mandamento de defender pela espada a fé que ele pregava - e isto é irracional”. Tiradas do seu contexto, estas palavras provocaram uma vaga de contestação no mundo muçulmano. Foi dito que Bento XVI encabeça a mais recente investida Ocidental contra o Islão. Colocado na defensiva, o Vaticano respondeu que se tratava de uma afirmação que visava constituir um ponto departida para um debate aberto. Seguiram-se os protestos e a exigência de um pedido de desculpas. Acusado de insultar o Islão, o Papa responde: “lamento” que muçulmanos “se sintam insultados” pelas suas palavras. Recusou-se a pedir desculpa.
No domingo, 20 mil turcos manifestaram-se nas ruas contra a deslocação do Papa. A oposição de Bento XVI à entrada da Turquia na União Europeia mobilizou alguns. Outros marcaram presença para exigir uma pedido de desculpas pelas declarações “anti-muçulmanas” proferidas em Regensburg. Uniram-se na convicção de que Bento XVI traduz um sentimento anti-muçulmano generalizado na Europa. Para grande parte da opinião pública turca, a Europa rejeita a Turquia por razões de natureza religiosa, uma ideia reforçada pela promessa do governo francês de referendar a eventual adesão do país. No fundo, acreditam que oPapa diz o que os europeus pensam.
Independentemente de se concordar ou não com Bento XVI, é evidente que as suas reflexões vão ao encontro de preocupações sentidas em vários países europeus. A relação entre a Europa e o mundo muçulmano, tal como a forma como as minorias muçulmanas a viver na Europa se relacionam com a maioria, estão na ordem do dia. É certo que o sentimento anti-Islão aumenta progressivamente na Europa. Mas é igualmente verdade que as manifestações e a violência a propósito de cartoons ou em resposta a uma reflexão de Bento XVI aparentemente confirmam as palavras do imperador Manuel Paleólogo.
1 Comments:
So quem nunca leu a historia e pertenca ao club do "politicamente correcto", e que nao sabe, ou quer saber, que a religiao mussulmana foi imposta a forca das armas,
Mas parece que o Papa decidiu enveredar no tal club, tem que se agradar a gregos e a troianos, a verdade nao conta.
Um abraco serramo.
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