Observatório da Jihad


18.7.06

A guerra inútil de Israel

por Daniel Pipes
New York Sun, 18 Julho 2006

Versão original:
Israel's Unnecessary War
Adaptação portuguesa: K. Sliver

A responsabilidade dos actuais combates cabe inteiramente aos inimigos de Israel que recorrem a métodos desumanos colocados ao serviço de objectivos bárbaros. Desejo o maior sucesso às forças armadas israelitas contra os terroristas, em Gaza e no Líbano, e espero que inflijam uma grande derrota ao Hamas e ao Hezbollah, sofrendo um mínimo de perdas. Mas esta guerra inútil deve-se às decisões erradas tomadas por Israel nos últimos 13 anos.
Durante 45 anos, entre 1948 e 1993, a visão estratégica de Israel, o seu talento táctico, o seu espírito de inovação tecnológica e a sua inteligência logística valeram-lhe uma grande capacidade de dissuasão. Uma profunda compreensão da situação problemática do país, complementada por dinheiro, vontade e devoção, permitiam ao Estado de Israel alimentar e polir, incessantemente, a sua reputação de força e de tenacidade.
Os seus dirigentes estavam concentrados no estado de espírito e humor do inimigo, escolhendo as políticas que enfraqueciam a sua moral, com a finalidade de lhes impor um sentimento de derrota face à permanência do Estado judaico, que não podia ser quebrada. Assim, quem atacasse o Estado de Israel deveria pagar esse erro – os seus terroristas seriam capturados, os soldados eram mortos, a sua economia afundava-se e o regime caía.
Por volta de 1993, estes sucessos inspiraram aos israelitas uma confiança excessiva. Pensaram ter ganho e escolheram ignorar o facto incomodativo que os palestinianos e os outros inimigos não tinham abandonado a esperança de eliminar Israel. Dois sentimentos longamente ausentes, a fadiga e o orgulho, invadiram as emoções. Ao decidirem que bastava de guerra e que podiam terminar a guerra nas suas condições, os israelitas fizeram experiências com objectos totalmente exóticos, tais como o «processo de paz» e a «desocupação». Permitiram aos seus inimigos criar uma estrutura quase-governamental («Autoridade Palestiniana») e acumular armas (os cerca de
12000 rockets Katioushas do Hezbollah armazenados no sul do Líbano, segundo o diário árabe Asharq al-Awsat). Aceitaram as vergonhosas trocas de terroristas capturados por reféns.
Perante esta trapalhada de
pacificação e retirada, os inimigos de Israel perderam rapidamente o medo e começaram a considerar Israel como um tigre de papel. Ou, retomando a expressão caustica do dirigente do Hezbollah Hasan Nasrallah, “Israel, que possui a força de reacção nuclear e a mais poderosa força aérea da região, é mais fraco que uma teia de aranha”. Como escrevi em 2000, “o receio de Israel deu lugar a um desdém próximo do desprezo”. Ignorando o efeito das suas acções junto dos seus inimigos, os israelitas, tomados por uma lógica perversa, parecem justificar esse desdém. Foi assim que os palestinianos, e outros, reencontraram o antigo entusiasmo na ideia de eliminar Israel.
Para reparar os danos acumulados durante 13 anos, Israel deve voltar ao lento, penível, custoso, frustrante e monótono trabalho de dissuasão. O que implica renunciar aos planos de compromissos insensatos, às esperanças de boa vontade quiméricas, às libertações irresponsáveis de terroristas, à
auto-complacência fatigada e às estúpidas retiradas unilaterais.
Os decénios de duro trabalho, anteriores a 1993, valeram a Israel o respeito prudente dos seus inimigos. Comparativamente, as pontuais demonstrações de força não têm utilidade. Se Israel retomar os hábitos de apaziguamento e de retirada, os actuais combates resumem-se a uma borrasca de Verão, uma reprimenda fútil. Hoje, os inimigos de Israel sabem que
basta tentar durante dias ou semanas para que a situação se restabeleça, que os israelitas voltem ao obscurantismo, que o governo distribua novos presentes, negoceie com os terroristas e opere uma nova retirada territorial.
A dissuasão não pode ser restaurada numa semana, através de um raid, um bloqueio ou uma campanha militar. O retorno exige uma resolução inabalável, confirmada por decénios. Para que as actuais operações tenham um efeito que ultrapasse o simples paliativo emocional, elas devem anunciar uma profunda reorientação. Devem gerar uma completa revisão da política internacional israelita, o abandono dos paradigmas de Oslo a favor de uma política claramente orientada para a vitória.
O curso dos acontecimentos tem sido constante desde 1993: cada desilusão provoca nos israelitas uma orgia de remorsos e de reconsiderações seguidos de um retorno silencioso ao apaziguamento e à retirada. Por isso, penso que as actuais operações em Gaza e no Líbano não visam derrotar o inimigo, mas a obter a libertação de um ou dois soldados - um objectivo muito estranho para uma guerra, talvez sem precedentes na história -, anunciando um rápido retorno à situação anterior.
Por outras palavras, a importância real das hostilidades em curso não depende do que for destruído no Líbano nem do conteúdo das resoluções da ONU, mas dos ensinamentos que o público israelita daí retirar – ou não.

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Consulte os arquivos de Daniel Pipes - traduzidos por Márcia Leal e K. Sliver - em português

4 Comments:

At 22:56, Blogger Diogo said...

«A responsabilidade dos actuais combates cabe inteiramente aos inimigos de Israel»

Absolutamente de acordo! Sabendo-se que os inimigos de Israel são os tipos que puxam os cordelinhos em Washington e os seus fantoches do Knesset.

Porque a população israelita também arrisca muito nesta guerra:

A seguir aos bombardeamentos de Beirute por Israel há o perigo de que a guerra patrocinada pelos EUA no Médio Oriente, que actualmente se caracteriza por três teatros de guerra distintos (Afeganistão, Palestina e Iraque) venha a escalar e estender a toda a região Médio Oriente - Ásia Central.

Os bombardeamentos do Líbano fazem parte de uma agenda militar cuidadosamente planeada. Eles não são actos espontâneos de represália da parte de Israel. São actos de provocação.

Os ataques podiam na verdade ser utilizados como pretexto para disparar uma operação militar muito mais vasta, a qual já está no estágio de planeamento activo. Com toda a probabilidade, os bombardeamentos foram efectuados com a aprovação de Washington.

O período destes bombardeamentos coincide com o confronto como o Irão quanto ao alegado programa de armas nucleares. Eles deveriam ser encarados e analisados em relação com os interesses geopolíticos e estratégicos americanos-israelenses em toda a região.

http://www.resistir.info/chossudovsky/escalada_moriente.html

 
At 23:02, Blogger Diogo said...

«Consulte os arquivos de Daniel Pipes - traduzidos por Márcia Leal e K. Sliver - em português»

Vocês não acham tempo perdido estar a traduzir isto? O Pipes é retardado!

 
At 12:04, Blogger Caturo said...

Um bom artigo de Pipes.

 
At 18:47, Blogger Diogo said...

Caturo! Vem a meus braços. Os imbecis que escrevem neste blogue não dão duas para a caixa. Promete-me que vamos continuar a comentar conjuntamente estas alarvidades. Está combinado?

 

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