Observatório da Jihad


6.1.07

Como o Ocidente pode perder

por Daniel Pipes
New York Sun, 26 de Dezembro de 2006
Original em inglês: How the West Could Lose
Tradução: Márcia Leal – Adaptação: KS

Depois de vencer os fascistas e os comunistas, o Ocidente pode vencer os islamistas?
A sua preponderância militar faz a vitória parecer indiscutível à primeira vista. Ainda que Teerão desenvolva uma arma nuclear, os islamistas não têm
nada semelhante à máquina militar utilizada pelo Eixo na Segunda Guerra Mundial ou pela União Soviética na Guerra Fria. O que têm os islamistas que se compare à Wehrmacht ou ao Exército Vermelho? Às SS ou às Spetznaz? À Gestapo ou à KGB? Ou mesmo a Auschwitz ou ao Gulag?
Contudo, não são poucos analistas,
entre os quais me incluo, que receiam que as coisas não sejam tão simples. Os islamistas (definidos como pessoas que exigem viver sob a lei sagrada do Islão, a charia) poderiam sair-se efectivamente melhor que os outros totalitaristas. Até poderiam vencer. Isto porque o Ocidente é como um computador cujo hardware tem uma grande potência, mas o software apresente bugs virtualmente fatais. Desses bugs, três são dignos de nota — o pacifismo, o ódio de si mesmo e a presunção.
Pacifismo. Entre as pessoas cultas, predomina a convicção de que «não existe solução militar» para os problemas da actualidade, um mantra aplicado a todas as questões do Médio-Oriente—
Líbano, Iraque, Irão, Afeganistão, os curdos, o terrorismo e o conflito árabe-israelita. Mas esse pacifismo pragmático ignora o facto de que a história moderna está repleta de soluções militares. As derrotas do Eixo, dos Estados Unidos no Vietname ou da União Soviética no Afeganistão, o que foram senão soluções militares?
Ódio de si mesmo. Figuras importantes em vários países ocidentais — especialmente nos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Israel — acreditam que os seus governos são depositários do mal e vêem o terrorismo como uma punição justa pelos erros do passado. A postura do «
encontramos o inimigo, e ele somos nós» substitui uma reacção eficaz por gestos de conciliação, inclusive a disposição para renunciar a tradições e conquistas. Osama bin Laden celebra nominalmente esquerdistas como Robert Fisk e William Blum. Ocidentais com ódio de si mesmos ganham uma importância desmedida pelo seu papel como formadores de opinião nas universidades, nos media, nas instituições religiosas e nas artes. Eles servem os islamistas como mujahideen auxiliares.
Presunção. A inexistência de uma considerável máquina militar nas mãos dos islamistas imbui muitos ocidentais, principalmente à esquerda, de um sentimento de desdém. Se a guerra convencional — com os homens em uniformes, navios, tanques e aviões, batalhas sangrentas por territórios e recursos — é simples de compreender, a
guerra assimétrica contra o Islão radical é ilusória. Fisgas e cinturões explosivos dificultam a percepção do inimigo como um adversário respeitável. Muitos partilham com John Kerry a visão de que o terrorismo é um mero «aborrecimento».
Os islamistas, no entanto, utilizam recursos tremendos, que deixam longe o terrorismo em menor escala:
* Uma possibilidade de acesso a armas de destruição em massa que poderiam devastar a vida ocidental.
* Um fascínio religioso que oferece ressonâncias mais profundas e um poder mais duradouro que as ideologias artificiais do fascismo ou do comunismo.
* Uma máquina institucional pensada, financiada e organizada num grau assustador e que consegue credibilidade, apoio e óptimos resultados eleitorais.
* Uma ideologia capaz de atrair muçulmanos de todo o tipo, dos carentes aos privilegiados, dos analfabetos aos pós-graduados, dos ajustados aos psicopatas, dos iemenitas aos canadianos. O movimento quase desafia as definições sociológicas.
Uma linha não-violenta — que descrevo como «
Islamismo revestido de legalidade» — cuja meta é a islamização por meios educativos, políticos e religiosos, sem recorrer à ilegalidade ou ao terrorismo. O Islamismo legalista tem-se revelado um sucesso tanto nos países onde os muçulmanos são maioria, como na Argélia, como nos países onde são minoria, como o Reino Unido.
Um número elevado de quadros. Como os islamistas constituem
10% a 15% da população muçulmana mundial, os seus quadros chegam a 125 ou 200 milhões de islamistas, um número muito superior à soma dos fascistas e comunistas já existentes.
O pacifismo, o ódio a si mesmo e a presunção levam ao prolongamento da guerra contra o Islão radical e causam mortes injustificadas. Ao que parece, só depois de sofrerem perdas humanas e materiais em níveis catastróficos os ocidentais de esquerda serão capazes de superar esse padecimento triplo e enfrentar a ameaça na sua dimensão real. Então o mundo civilizado sairá vencedor, mas tardiamente e com um custo maior que o necessário.

Se os islamistas forem inteligentes e evitarem a destruição em massa, optando por uma via legal, política e não-violenta, e se o vigor do movimento persistir, é difícil saber o que poderá detê-los.

2 Comments:

At 01:23, Blogger Marco said...

Os islamitas radicais têm a seu favor a profundidade histórica da religião. O comunismo e o nazismo são historicamente superficiais se comparados ao radicalismo Jihadista.

As bases e escolas de treinamento jihadistas portanto possuem maior poder de apelo do que os grupos da juventude nazista ou comunista.

Mas não podemos esquecer que os grupos jihadistas mais virulentos compoem-se de elementos que "integram" as sociedades ocidentais, na Europa e EUA. A Raiz do mal não está na religião mas na incapacidade desses elementos em se integrarem ao mundo moderno.

 
At 18:32, Anonymous Anónimo said...

Se falar-mos, só um pouco, na linguagem deles, acobardam-se logo.

 

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