Observatório da Jihad


1.8.06

Filmagens de Brick Lane em Londres geram polémica entre escritores

O que começou como um pequeno protesto de emigrantes do Bangladesh na zona este de Londres sobre como a comunidade seria retratada num filme de baixo orçamento, tornou-se uma guerra pública entre dois escritores, Salman Rushdie e Germaine Greer. Domingo, várias dezenas de membros de Brick Lane, uma rua de Londres conhecida pelos restaurantes asiáticos e onde vive parte da comunidade oriunda do Bangladesh, saíram de casa para protestar contra a rodagem do filme baseado no livro de Monica Ali, Sete Mares e Treze Rios, da Dom Quixote (Brick Lane no original), que, dizem, os retrata como simples e ignorantes. O romance de Ali, de 2003, é sobre uma mulher do Bangladesh que vai viver para o Reino Unido, numa comunidade de emigrantes, e que aceita um casamento arranjado. Na semana passada, a Ruby Films, que está a transformar este romance aclamado pela crítica em filme, desistiu de gravar cenas em Brick Lane depois de ter sido avisada pela polícia de possíveis protestos. A PEN, organização de defesa da liberdade de expressão dos escritores em todo o mundo, está preocupada com o facto de os meios de comunicação estarem a transformar a questão numa luta entre os que defendem o direito à opinião e uma"minoria preparada para a batalha". Mas foi isso que pareceu na guerra de palavras entre Rushdie, autor de Versículos Satânicos, e Greer, a escritora feminista e académica australiana que escreveu A Mulher Eunuco. Os dois escritores tomaram o partido de lados opostos na disputa pelo filme. Na semana passada, Greer escreveu no Guardian que "a comunidade tem o direito moral de afastar a equipa de filmagens", embora tenha acrescentado: "Mas depois não podem reclamar se outro lugar qualquer for usado para ser apresentado ao mundo como Brick Lane. "Rushdie, respondendo através de uma carta publicada no sábado no mesmo jornal, chamou ao artigo de Greer "balelas pró-censura". "O seu apoio ao ataque ao filme é filistino e vergonhoso", escreveu. O escritor atacou ainda Greer por esta, alegadamente, se ter recusado a apoiá-lo em 1989, quando o líder iraniano lhe lançou a fatwa (sentença de morte). Abdus Salique, membro da campanha contra as filmagens em Brick Lane e líder da comunidade de comerciantes local, recebeu de bom grado a decisão de não gravar cenas naquela rua, embora tenha reconhecido que não pode proibir o filme. "Esta é uma vitória parcial e nós vamos continuar com uma campanha pacífica para que o livro não seja filmado", disse ontem. As razões por trás dos protestos de uma pequena parte da comunidade do Bangladesh são comerciais e ideológicas, disse. "Acredito que, depois de o filme sair, haja pessoas a desistir de vir a BrickLane", disse Salique.
Mike Collett-White / Reuters via «Público»