Realidades
por Vasco Pulido Valente
Público, 28 Julho 2006
A guerra de Israel com o Hezbollah e o Hamas parte de algumas realidades que nem sempre são óbvias. Primeira realidade: a realidade militar. Israel não pode aceitar um Estado palestiniano sob pena de extermínio, porque não pode haver um Estado palestiniano que não torne Israel vulnerável. Toda a espécie de negociação é, portanto, frívola e conduz por força ao agravamento da situação anterior. Pior, a exiguidade do espaço e a tecnologia balística tornaram também Israel vulnerável fora das suas fronteiras. Isto significa que Israel precisa de anular qualquer ameaça numa "zona tampão", que por agora inclui, pelo menos, parte do Líbano, Gaza e provavelmente a Síria. Defender implica atacar. Enquanto os foguetões do Hezbollah chegarem a Haifa e à Galileia (e amanhã os foguetões do Hamas e da jihad islâmica muito mais longe) não vale a pena falar num cessar-fogo, "imediato" ou não. Para Israel, um "cessar-fogo" equivale a permitir que o Hezbollah e o Hamas se rearmem e se reorganizem para eventualmente repetirem tudo em melhor posição.Segunda realidade: a realidade política. A Europa insiste numa solução política, que ela própria e a ONU se encarregariam de garantir. Israel conhece essa retórica. Fora que não acredita (e muito bem) em qualquer garantia da ONU ou da Europa, resta que a "solução política" militarmente inviável, como se disse) depende em última análise do Irão e da "rua" árabe. A "rua" árabe não fará o menor compromisso. E o Irão, à procura da supremacia regional, e perante o cansaço e fraqueza da América, não recuará. O ayatollah Khamenei já esclareceu definitivamente o caso. Israel está só, com o apoio provisório de um Bush derrotado e sem futuro. Negociar seria suicida.Terceira realidade: a realidade do islão. O islão não conseguiu entrar" no mundo moderno. Nem com a "independência", nem com o "socialismo" ("árabe" ou outro), nem com o dinheiro do petróleo. Da Indonésia à Síria, é uma civilização fracassada onde se acumulam pressões sobre pressões como dantes se acumulavam na República de Weimar: a miséria, o desemprego, a desigualdade, o fanatismo, atirania e a violência. No meio desta inominável catástrofe, Israel serve de bode expiatório e símbolo de uma cada vez mais difícil e ténue unidade. Ninguém no islão vive ou viverá em paz com Israel. Ou com o Ocidente.
2 Comments:
Daniel Oliveira no Expresso:
Mas o mais interessante do que vou lendo e a reescrita da história. Tudo se resume a isto: sírios e iranianos manipulam o Líbano e não deixam o pacífico Estado israelita viver na paz que sempre desejou. Que a Síria e o Irão não são flor que se cheire, só um tonto o pode negar. Que viver em Israel não há-de ser pêra doce, também entra pelos olhos dentro. Mas talvez um pouco de seriedade fosse recomendável.
A história do Líbano não começou há uns meses. Se há povo que se pode queixar de má vizinhança é o libanês. Entre 1968 e 2000, Israel atacou, destruiu e ocupou o Líbano sempre que entendeu. Na guerra civil libanesa não faltou quem fizesse o gostinho ao dedo, incluindo a sempre diligente ditadura síria. Mas ninguém chegou ao requinte macabro de Israel. Em 1982, supostamente para atingir a liderança da OLP, bombardeou Beirute durante dois meses. Saldo: 12 mil mortos libaneses. Nesse mesmo ano, milícias falangistas cristãs entraram nos campos de refugiados palestinianos de Sabra e Chatila e durante dois dias violaram e mataram tudo o que mexesse. Numa orgia de sangue, liquidaram mais de dois mil civis, quase todos mulheres e crianças. Israel, com especial empenho do ministro da Defesa de então, Ariel Sharon, deu o seu gracioso patrocínio. Iluminou os alvos e usou os seus «bulldozers» para abrir as necessárias valas comuns.
Ah os gajos fizeram isso??!?!?!!!! Fixe!!! Só foi pena terem deixado alguns. Fica para a próxima. E tu vais a seguir ó "Intifadaboi" sofocleto!
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